terça-feira, outubro 11, 2005

GARIMPANDO VERSOS

Marcus Ottoni


Sábado, 15 de outubro
Krhystal, Balalaika Brega Band e Maria Boa
abrem Festival Gastronômico do Beco da Lama


“Nas zonas mais atingidas, perdeu-se uma geração inteira, e as crianças estão entre os mais afetados.”
General Shaukat Sultan, porta-voz das Forças Armadas paquistanesas, sobre as conseqüências do terremoto de 7,6 graus na escala Richter, que atingiu sábado o Sul da Ásia.

D’Luca/DN

Lançamento do livro “Esperado ouro” (Editora UNA), de Marize Castro.
Hoje, às 19h, no Teatro de Cultura Popular da Fundação José Augusto
Rua Jundiaí, 641, Tirol. Preço: R$ 20

Muralha

Porque me abasteci, estou de volta.
Trago comigo coisas abandonadas.
Coisas que os homens jogaram fora:
placentas, gânglios, guirlandas, guelras.

Retorno mais alimentada. Perigosa.
Mais mar. Mais aberta.

Hoje descobri que quando estou dormindo
Deus segura minha mão e a leva para seu rosto.
Para Ele
sou mulher e menina.
Para o mundo
sou silêncio e desordem.
Lassidão e rumor.

Uma muralha que sempre desejou ser flor.

Marize Castro


Ourives da poesia

Essência, simplicidade, vida e, acima de tudo, verdade: elementos fundamentais que movem a poesia da potiguar Marize Castro. Nesta terça-feira, às 19h, no Teatro de Cultura Popular da Fundação José Augusto, a autora lança “Esperado Ouro”, seu quarto e bem lapidado livro, e segundo título da editora UNA — selo próprio de Marize, que estreou no mercado editorial em julho do ano passado com “Armadilha de vidro”, de Diva Cunha. O lançamento também conta com a parceria da Editora da UFRN e da Fundação Capitania das Artes.

“Jornalista, editora e uma das fortes vozes femininas da poesia brasileira contemporânea”, segundo os escritos de Nelly Novaes Coelho publicados no “Dicionário crítico de escritoras brasileiras”, Marize Castro vai buscar na dor a inspiração para compor sua obra. “A dor pode surgir de diferentes maneiras e não necessariamente significa sofrimento, acredito que ela (a dor) seja a montaria mais rápida para de chegar a verdade”, disse citando o filósofo alemão Nietzsche (1844-1900).

Essas “maneiras” que a autora se refere, ganham formas tão díspares que o leitor pode entender e ser envolvido em atmosferas que tratam de amor, morte, relações interpessoais, prazer, sexo e outras características sentimentais e sensoriais presentes em todo ser humano. Longe de tentar incutir pensamentos complexos e existencialistas, a autora não busca instigar a reflexão nem desconcertar ninguém diante de momentos nus e crus de uma realidade coletiva comum.

“Não quero enquadrar, embalar nem rotular a poesia, pois por si só ela transcende qualquer tipo de classificação ou atribuição. Quero mais é abrir o leque de possibilidades e ver até onde ela (a poesia) pode chegar. As reações dependem do entendimento do leitor e não das intenções do autor”, observa.

Em “Esperado ouro”, a poetisa busca — nos 52 poemas registrados — quebrar restrições e preconceitos que insistem em manter a vida amarrada: “O primeiro estágio é a verdade, é ela que toca e desperta as pessoas. Para mim poesia é essência e simplicidade, garimpo e lapidação”, acredita a autora, que disse não obedecem um padrão para criar.

Autora diz não ter compromisso com tempo

Com três livros já lançados, “Marrons Crepons Marfins” (1984), “Rito” (1993) e “Poço. Festim. Mosaico” (1996), Marize afirma que pode passar anos lapidando um poema como também pode escrever e fechar outro de uma só vez. “O tão ‘esperado ouro’, sugerido no título, é a própria poesia. Como não tenho compromisso com periodicidade, lanço livros de acordo com manifestações que seguem um curso natural. Escrevi muito nesses dez anos que separam os dois últimos lançamento, tinha muito material para selecionar e vi que estava pronta para lançar um novo livro”, explicou a autora, frisando que esse hiato temporal não significa que o próximo livro será lançado daqui dez anos.

Questionada sobre a tendência das pessoas permanecerem “boiando” na superficialidade cultural imposta pela tal globalização midiática, Marize Castro não hesita em dizer que a “distância das pessoas em relação à poesia, é proporcional à distância de si mesmo”: “Não estou restringindo essa observação apenas à esfera poética, todas as formas de arte estão sujeitas a esse tipo de comportamento”.

A autora chama atenção para o trabalho gráfico do artista plástico potiguar Wellington Dantas, que assina a ilustração da capa. “Tudo foi feito com intensidade e cumplicidade, é um trabalho de alquimia que pode ter várias leituras”, completa.

Marize Castro já trabalhou como editora do jornal cultural “O Galo”, entre 1988 e 1990, publica seus poemas em vários jornais e revistas nacionais — Bahia, Paraná, Brasília e Rio de Janeiro — e do exterior (The American Voice e International Poetry Review, publicações que circulam nos Estados Unidos). Atualmente trabalha na Editora da UFRN. “Não posso deixar de agradecer a todos que me ajudaram a tornar esse projeto realidade. Não vou citar nomes para não arriscar deixar alguém de fora, por isso tenho certeza que essas pessoas sabem de quem estou falando”, completa com sua peculiar atmosfera “possibilista”.

Yuno Silva
Tribuna do Norte, 11/10/2005



Poesia garimpada

‘‘Porque me abasteci, estou de volta.’’ Com esses versos iniciais, do poema ‘‘Muralha’’, a poeta Marize Castro volta a publicar o resultado de algo que lhe parece tão vital quanto respirar: poesia. O nome do livro, não poderia ser mais intencional, Esperado ouro, algo que traduz um ‘‘garimpo’’ de coisas sentidas e, principalmente vividas, nesses quase 10 anos sem publicar. O lançamento será hoje, às 19h, no Teatro de Cultura Popular (TCP), anexo à Fundação José Augusto, na Rua Jundiaí, no Tirol.

Mais adiante, naquele mesmo poema, os versos dizem: ‘‘Retorno mais alimentada. Perigosa/Mais mar./Mais aberta’’. E a poesia que não é nada estanque na vida dessa moça parece que escorre também por entre as paredes de sua casa, pelas amplas portas e janelas, (tudo nos tons lilás, branco e rosa) e pelo sorriso de generosidade com que recebe a tarefa de posar para a câmera fotográfica e depois na entrega da conversa, durante a entrevista.

‘‘Neste livro, estou ratificando toda minha trajetória poética’’, vai logo dizendo, ‘‘Poesia realmente é garimpo e lapidação. Não dá para lançar um livro por ano’’, explica. Muito embora admita que nesse tempo em que não publicou, não deixou de escrever. Mas, o que importa é que agora ela está de volta e quer mostrar o que fez.

A matéria-prima para sua poética é a vida. ‘‘A vida que abastece. Hoje sinto uma disponibilidade maior para tudo’’. Depois de mais de 20 anos da publicação do seu primeiro livro Marrons crepons marfins, prêmio de Poesia da Fundação José Augusto, em 1984, e com o qual foi considerada ‘‘revelação’’ da poesia brasileira, conquistando espaço no jornal e projeção nacional, a ‘‘mulher’’ Marize Castro, agora com 42 anos, guarda a menina que ficou meio assustada com todo aquele rebuliço em torno do seu fazer literário e diz que está serena, com relação à expectativa de como seu quarto livro será recebido: ‘‘Não tenho mais medo. Ele desapareceu ou se transformou. Estou tranqüila. É como se estivesse sendo generosa, fazendo uma troca com a vida, com o que ela me deu. A liberdade que tive no Marrons (crepons marfins) estou reencontrando agora. Mas não há fechamento de nada. Há um processo”, diz explicando a trajetória dos seus quatro livros.

Troca

A ‘‘troca’’ com o leitor é algo que Marize Castro também olha com bastante atenção. ‘‘Quero ser lida. Duvido muito que alguém que escreve não queira ser lido. Agora, o contato com o leitor é a poesia. Acredito que é nesse momento que ela realmente ocorre. Nada é gratuito na poesia. Ela não acontece se não há a participação do leitor’’.

Como a própria escritora sugere, Esperado ouro parece conter todos seus outros livros. Numa linguagem que se repete e ao mesmo tempo se renova, com o inevitável percurso do seu fazer artístico e o entrelaçamento com o que a vida foi lhe dando. Durante a conversa, ela de vez em quando insiste em falar da vida como sua maior inspiração.

E é nesse contexto que a poeta diz despir-se de estereótipos de literatura ‘‘feminina’’ ou ‘‘masculina’’. ‘‘Sei que historicamente, houve e ainda há essa divisão. Mas, o grande barato da poesia é quando não existe mais o homem ou a mulher. Sinto-me um ser que escreve’’. Já na ilustração de Esperado ouro a visão da escritora parece estar ali implícita: Traços desenham a silhueta de uma mulher nua. E uma ‘‘fenda’’, no tom dourado, alude a um falo. ‘‘Nos templos revisitados, olhos andróginos abrem-se/falam-me de uma ternura próxima de Deus. Magias deslizam/teço e ascendo/Salva-me uma multidão de teias’’, é o que diz ‘‘Aprendiz’’, outro poema do seu livro.

Em Esperado ouro, há muitas referências, sejam de sentimentos, viagens e até escritores. Sylvia Plath e Virgínia Woolf são duas delas. Sobre se ela se ‘‘alimenta’’ do que lê, a resposta é sim, mas completa: ‘‘Leio poesia dos livros e leio também poesia na vida’’. E é dessa forma, vendo, observando e lendo o mundo, que Marize Castro, também traz na bagagem do seu quarto livro uma seqüência de poemas: ‘‘Lápide’’; ‘‘Com vertigem e perícia’’; ‘‘Em segredo’’ e ‘‘Três bicicletas em Amsterdã’’ feitos após viagens que fez. Neles, há também fotografias que ‘‘completam’’ o que foi escrito.

A presença da natureza, do amor e de Deus são constantes nesse livro. Sobre esses elementos ela fala de Deus: ‘‘Não é um Deus que pune. E sim que acarinha, que me permite também ser criadora’’, fala como se a interseção entre Deus e a pessoa fosse a poesia. ‘‘Não vejo separação entre o eu poético e a pessoa. A poesia é a verdade. Se eu abandonar a poesia, estaria abandonando a mim mesma’’.


Vida dividida entre a poesia e o jornalismo

Marize Castro além de poeta é também jornalista. Trabalha na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e atualmente edita trabalhos na área de jornalismo cultural e científico, principalmente em revistas. Tem mestrado pelo Departamento de Educação, dedicado à poeta Zila Mamede, no seu ofício de bibliotecária.

Fez parte durante dois anos da extinta revista cultural ‘‘O Galo’’, da FJA. Editou também o segundo caderno de O Jornal de Natal e a revista cultural ‘‘Odisséia’’, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da UFRN. Atualmente é idealizadora e proprietária da UNA Editora, que também funciona como uma espécie de produtora gráfico-editorial, do qual seu quarto livro faz parte.

Sobre a ebulição de escritores e de publicações no Estado, Marize Castro, vê com bons olhos, no entanto percebe que há uma ‘‘lacuna’’ na distribuição, principalmente para outras regiões. ‘‘O Marrons chegou por acaso nas mãos de críticos de São Paulo’’, lembra, revelando acreditar que é por essa falta de distribuição que a maioria dos escritores locais são ‘‘anônimos’’ lá fora. Com a UNA ela pretende trabalhar essa distribuição, principalmente agora com seu quarto livro.

Quanto a projetos, Marize Castro espera publicar logo o livro Além do nome, com uma coletânea de entrevistas que fez em 2001, com 33 escritores potiguares, com nomes como Celso da Silveira, Adriano de Sousa, Carmem Vasconcelos e Iracema Macêdo.


Filosofia inspirou o primeiro texto

O primeiro de texto que ela se lembra ter escrito foi aos nove anos de idade. Não o tem mais, mas lembra-se – com carinho – de que tinha um ar ‘‘filosófico’’. Aos 22, quando ganhou o prêmio literário e publicou Marrons crepons marfins, diz que já sentia necessidade de mostrar ao leitor aquelas poesias garimpadas desde os seus 17 anos. Mas no discurso da poeta não há preciosismo no tratamento dado à sua poesia. ‘‘Antes de publicar, mostro a poucos amigos. Mas, não sou refém da crítica. Já fui. Depois do primeiro, foi uma loucura para fazer o segundo (Rito, 1993). E enquanto produzo, não fico fazendo reverência ao que jogo fora’’.

Em sua trajetória poética, Marize Castro também participou de antologias poéticas. Em 1992, a poeta Olga Savary publicou do seu primeiro livro ‘‘Nódoas’’ e ‘‘Querela’’, para a Antologia Nova Poesia Brasileira. Rito foi indicado aos leitores do jornal Folha de São Paulo, em fevereiro de 1994. Antes, porém, durante a década de 80 sua poesia foi publicada em diversos jornais culturais do país, como o saudoso Nicolau, ao lado de nomes como Adélia Prado e Ana Cristina César. O terceiro livro Poço. Festim. Mosaico é de 1996, livro do qual ela expressa um enorme carinho e pode ser considerada uma publicação rara, dado os poucos exemplares que foram impressos.

Em 1997, o crítico norte-americano Steven White traduz sua poesia e a publica numa antologia denominada The American Voice. Naquele mesmo ano, Steven White publica numa versão bilíngüe uma poesia de Marize Castro na International Poetry Review, juntamente com autores brasileiros como Mário Quintana e Murilo Mendes. Em 1998, faz parte do livro A poesia Norte-rio-grandense no século XX, numa seleção de Assis Brasil. Em 2001 edita e também colabora com uma poesia do livro Literatura do Rio Grande do Norte, Antologia. No ano seguinte, torna-se verbete no Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras e em 2003, faz parte da revista Poesia Sempre, da Fundação Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro.

Sheyla de Azevedo
Diário de Natal, 11/10/2005


por Alma do Beco | 5:40 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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