domingo, outubro 09, 2005

E...

A PARTIR DE 15 DE OUTUBRO,
MARIA BOA NO BECO DA LAMA
Bar da Amizade, Bar de Aluízio, Bar de Zé Reeira, Bardallo's Comida e Arte, Bar de Nazaré, Bar de Seu Pedrinho, Bar de Mãinha, Bar de Francinete, Bar de Odete, Bar de Chico, Bar da Meladinha

Marcus Ottoni


“Nós erramos por não termos dito desde o começo que os companheiros pegaram dinheiro não-contabilizado.”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República






E...

E... as lágrimas....
Escorreram levando meus sonhos
Por entre as angústias do tempo
E... o tempo....
Feito aves de arribação
Voou por entre as veredas do firmamento
E... o firmamento....
Na busca incessante do nada
Escondeu-se por trás das cortinas do Sol
E... o Sol....
Carregado com sua própria energia
Engoliu impiedosamente os raios da Lua
E... a Lua....
Vestida com as sombras da noite
Suplicou romantismo aos poetas
E... os poetas....
Mergulhados na sensibilidade
Construíram o inevitável mundo dos sonhos
E... os sonhos....
Livres das angústias do tempo
Voltaram, trazendo a esperança
E... a esperança....
Entrou em mim
Devolvendo os meus sonhos

Manoel Bomfim





MATURESCENTE

Vieste, após ser tantas, enfim, ser tu somente.
E me presenteaste, assim, tão de surpresa,
que eu não percebi
tu sempre em mim presente.

(Nem sequer eu poderia.)

Chegaste em minha vida
quando eu pouco a possuía,
e tu adolescias
e eu adolescendo,
e éramos, nós dois, em tantos eus,
que nos víamos em muitos,
mas quase nunca em nós.

(E me surges, assim, tão de repente,
assim, tão diferente.)

Foste, sempre, a única de mim
e eu de ti apenas,
mas como se não fôssemos de nós,
dois elos que unidos se deixaram
e pouco se tocaram.

(E me tomas, assim, tão entranhada,
assim, amalgamada.)

Tu sempre me amaste e pouco me disseste,
pois amor também precisa ser falado,
mormente quando início,
nos mínimos indícios,
em tudo registrado.

(E hoje, que me amas, assim, tudo te atesta,
calada e, assim mesmo, manifesta.)

Nos primeiros dias, noites, madrugadas,
teu corpo era teu verbo.
E tu te retorcias.
E tu te insinuavas.
E eu, senhor de ti, me comprazia
e te retribuía
nas vezes que te amava.

(E me vens, assim, o amor em cada gesto,
e eu te amando, assim, em todo e resto.)

Ai, que só nos bastam um e outro...
Um no outro, um no um, unos, completos.

Cuidavas do teu rosto e com tal zelo,
que te ver além do rosto eu não podia
- melhor, eu não sabia - ,
e hoje não te aflige mais a ruga.
Antes, vens a mim
e rindo, diz-me: veja...
É a deixa que me dás e não recuso.
Adivinhando o beijo,
sou dono do teu queixo:
Colhendo as tuas mãos que te pintavam,
hoje as minhas te maquiam,
somente pelo toque adstringente
e a língua que passeia, umectante.

Te sei e tu te sabes mais encanto.
Te sinto e tu te sentes mais amante.

E hoje, meu amor, que tu me tens
no tanto em que nunca me tiveste,
pois só te dei o macho que eu era,
e hoje dou-te o homem em que me acho,
não a chamarei de loba,
nem te direi por fêmea,
tampouco de fatal,
mas, decerto, por teu nome
- teu nome e mulher minha - ,
e tu a mim chamando
ao nome e de teu homem.

(Te amo muito mais do que te amara
- Se é que o amor a si mesmo supera - ,
Te amo de amar tanto, que esperara
Que todo o amar possível eu já tivera.)

E me vens, assim, plena, completa,
sem chances de eu te amar pela metade,
porque tudo me chama

toma
rapta
cala
e clama

e arde mais a chama
do que a cama em que ardias,
e tu, plena, completa,
tanto em mim e eu não te via...

Agora tudo em mim te ama em tudo.

E amo-te nas coxas, nos cabelos, nos teus peitos.
E amo-te na alma, nos teus risos, nos teus ais.

Nos feitos, nos defeitos,
porque em tudo estás.

Antoniel Campos





Distante dos olhos, mas dentro do coração

Sábado, 21 horas. Desço para a Ribeira. Sob o semáforo, reminiscências. O ar fresco da noite e as batidas do sino da Igreja Bom Jesus me reportam há anos atrás, quando, como uma Cinderela pós-moderna às avessas, sempre chegava naquele pedaço depois da meia-noite.

Noites inesquecíveis aquelas! Ao chegar nas proximidades da Rua Chile, já dava para sentir “o clima”. A alegria esfuziante dos jovens de todas as faixas etárias estava no ar, nos cheiros da noite, um misto de maresia, perfumes, hormônios e outros odores não identificados. Participar dos eventos públicos, ao ar livre, ou dançar no Blackout ao som do velho e bom rock and roll ou do sensual blues era tudo que havia de melhor para fechar a semana.

E você sempre estava por lá. Com seu sorriso largo, escancarado. Com olhos brilhantes, mais luminosos ainda nos dias de comemoração do seu aniversário ou do Bar, que, de tão cheio, saiu do espaço interior e ganhou o largo, ocupou as adjacências e conquistou definitivamente nosso coração. Você e seu sonho de revitalização, de resgate histórico, de lazer popular, democrático, que, infelizmente, até agora, não se concretizou.

Nesta noite, 1º de outubro, ao descer para ver o aplaudidíssimo Projeto Rock na Rua, empreendimento de uma jovem amante do gênero, deparei-me com sentimentos que duelaram em meu peito: de um lado alegria por estar ali, viva, sentindo a noite e vibrando pela possibilidade de rever antigos amigos e amores. Do outro, uma saudade imensa. Tão grande, que a própria palavra saudade ainda é insuficiente para traduzir.

Circulei pelo entorno do palco. Rostos desconhecidos, felizes, interagiam com a música, deixando o corpo solto seguir o ritmo das músicas. Casais beijavam-se apaixonadamente, pessoas conversavam animadamente. Nenhuma baderna. Nenhuma briga. Apenas algum lixo pelas ruas (necessitava ter mais depósitos espalhados para recolhê-los) e os raros bebuns de plantão. Nossos irmãozinhos desequilibrados, tão necessitados de ajuda.

Sentei-me para apreciar a multidão. Por alguns instantes, senti-me invisível. Anônima. Quase uma estranha no velho ninho. Até que vi o pessoal do Mad Dogs e Gabi, que, com seu abraço afetuoso e uma caneta doada, patrocinou as primeiras anotações desta crônica.

Conversamos, rimos e comentamos o quanto tudo era estranho sem você. Olhamos o Blackout fechado; com uma pintura diferente do colorido original. Tudo ali denunciava a sua ausência. Mas, de repente, ao olhar a noite serena, a rapaziada curtindo em harmonia, sem excessos, percebemos que estávamos compartilhando aquele momento com você.

Nossos olhos não conseguiam lhe ver, mas no nosso coração uma certeza se fez presente: você estava próximo e estávamos sentindo a mesma felicidade ao ver a velha Ribeira cansada de guerra alegre novamente. Pedimos outra cerveja e brindamos à noite, à música e ao amor, o dom supremo que move o universo.

Oferecemos a você, Paulo, aqueles momentos felizes, sabendo que mais cedo ou mais tarde a verdade se revelará. E a justiça que, como sabemos, tarda, mas não falha, principalmente a Divina, será cumprida.

Te amamos muito. Você está mais vivo que nunca em nosso coração.

Ana Cristina Cavalcanti Tinôco





O DETETIVE JAPONÊIS
Poema Matuto

Um marido discunfiado,
se viu tá e quá um ferrôio.
Pensô: Tô levaando é chife;
vô logo é abrí do ôio.
Prá muié num me inganá,
eu vô depressaaaa butá,
ais minha báiba de môio.

Cuntratô um detetive,
pru siná um japonêis.
Cabra bom, eficiente,
no jôgo, a bola da vêiz.
E falô cumpenetrado:
Japa, êsse resurtado,
eu quero antes de um mêis.

Pode dêçá, eu galanto.
Ao séiviço eu vô dileto.
Zaponêis segue a mulé,
faiz o tlabáio discleto.
O zaponêis lhe galante,
segue a mulé, dá flaglante,
faiz o selviço cumpleto.

Adispôi de um mêis de ispela,
o hôme foi se incrontá,
cum o jaaaponêis detetive,
prá do causo se intérá.
O japa dixe: O que eu ví,
e tudo o que descoblí,
agola eu vô lhe contá.

Eu ví a sua mulé,
saí cuberta cum um véu.
Num carro muito bonito,
com um cala, entlô num motel.
Zaponêis tlepô no mulo,
ficô lá em cima, no esculo,
plu mode vê o escarcéu.

Sua mulé tilô a saia,
eu eu fiquei lá, só na minha.
Tilô bluza, soutian,
palecia uma laínha.
Zaponêis ficô olhaaando,
quando o cala, lhe agalando,
tilô a sua calcinha.

E adispôi ? Pegunta o côrno.
Dispôi, hí, meu camalada.
Zaponêis ficô doidinho,
cum a sua mulé pelada.
E quando viu a bucêta,
foi batê uma punhêta,
caiu e num viu mais nada!...


Bob Motta
Esse poema faz parte do seu Recital de Poesia Matuta, Raízes e Fuleragens de Um Poeta Matuto e é uma das faixas do CD que leva o mesmo nome e tem a participação de José Augusto Costa Júnior, ao violão.

por Alma do Beco | 1:00 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

.. .. ..

.. .. ..

Recentes


.. .. ..

Praieira
(Serenata do Pescador)


veja a letra aqui

.. .. ..

A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

layout by
mariza lourenço

.. .. ..

Powered by Blogger

eXTReMe Tracker