segunda-feira, julho 04, 2005

O PRIMEIRO BRASILEIRO 16



A vida voltou ao normal na aldeia Potiguar.
Ansiosos, os comandados de Potiassu esperavam o nascimento do filho do homem da canoa grande. Por todos, Jandira era bem tratada, agora livre do ódio de Potimirim, o pajé que atentara contra a sua e a vida de Igarassujara, João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes, o marinheiro português que deserdara da esquadra de Gaspar de Lemos, aquela que chantara, em terras potiguares, o primeiro marco de posse das terras que anos depois viriam a ser chamadas Brasil.
Vendo aproximar-se o dia do nascimento esperado, Potiassu determinou que Igarassujara fosse levado ao acampamento preparado do outro lado do rio grande, por eles chamados de Potengi, a muita distância de sua aldeia.
Queria Potiassu que a família que iria surgir da convivência de Jandira e Igarassujara vivesse isolada e em observação permanente, o chefe indígena cada vez mais preocupado pelas incursões do desconhecido mata a dentro.
João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes tinha sede de explorar as terras desconhecidas. Tudo o que queria era encontrar ouro ou pedras preciosas, daí suas caminhadas a cada dia mais distantes.
A lua cheia iluminava a mata na noite em que Itapietá chamou Potiassu e deu notícia do nascimento de Igarassujararaí, um menino saudável, pouco diferente dos seus, guardando todos os traços da mãe, exceto a cor dos olhos, claros, mas ainda indefinidos, bem diferentes dos olhos dos recém nascidos daquela aldeia.
Na lua seguinte, Jandira foi levada ao encontro de Igarassujara e com ele deixada para a convivência planejada por Potiassu.
Igarassujararaí cresceu ajudando ao pai no conhecimento de sua língua. Jandira ensinava a ciência potiguar a pai e filho, esquecida do episódio causador daquela união. Paralelamente, João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes também ensinava idioma e ciências ao pequeno Igarassujararaí.
Com o tempo, o português percebeu que aquelas terras não tinham ouro nem pedras preciosas, pelo menos nas circunvizinhanças onde vivia.
A mata, dunas a dentro, o atemorizava. Sabia já da existência de índios inimigos dos potiguares ali por perto e que não seria prudente ir além das fronteiras demarcadas pelos seus protetores. Sonhava agora com a chegada de nova esquadra portuguesa para fugir dali, deixando para trás a família que já contava com dois outros filhos homens, Aiurucaua – Casa de Marimbondos, e Arati – O Despertar do Dia e; uma mulher, a bela Iaciara, Espelho de Lua.
A vida na aldeia corria sem anormalidades e mesmo insatisfeito com a prisão àquela terra e àquela vida selvagem, Igarassujara a cada dia mais estava convicto de que aquela seria sua rotina pelo resto da vida. Perspectiva só quebrada quando naus raramente cruzavam o horizonte, o que deixava a indiada em polvorosa e ele recolocado de volta a sua gaiola, até que o perigo se afastasse.
Os anos passavam, as crianças de Jandira cresciam, vivendo mais na aldeia de Potiassu que com seus pais, e a visão de naves gigantes cruzando o oceano passaram a ficar mais freqüentes.
Numa ensolarada tarde de verão, enquanto três embarcações permaneciam ao largo, duas outras adentraram o rio Grande, deixando Jandira em grande preocupação, já que Igarassujara saíra para a caça na direção para onde navegavam as canoas grandes.
Logo, ele apareceu em praia da outra margem , acenando para as embarcações.
Eram naves de bandeira francesa. João Antônio Cícero Sebastião José Silva Fernandes via ali a oportunidade que há anos esperava: voltar para a Europa, mesmo que sem as riquezas sonhadas, mas com uma história para contar, o que decerto o faria um homem famoso.

Eduardo Alexandre

por Alma do Beco | 1:56 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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