terça-feira, maio 31, 2005

UMA CIDADE, O BECO E A MAGIA


Festa Pratodomundo trouxe a poeta Civone Medeiros
(em primeiro plano) de volta ao Beco

Natal é uma cidade de dunas e magia.
Um lugar que nos convida ao aprazível, à utopia. É uma cidade feminina, com uma maioria populacional de mulheres. Uma cidade de luz, numa claridade estonteante. De sol, que chega mais cedo por aqui. De brisa, num privilégio sem par. De poesia – “em cada rua um poeta, em cada esquina um jornal”. É uma cidade de guetos, grupos, divisões. Uma cidade de valores elitistas, burgueses. Como, talvez, todo aglomerado humano. Uma cidade de muitos conflitos, como todas, talvez. Uma cidade que desconhece o seu. Uma cidade que desconhece a sua. Uma cidade que ignora o centro, os arredores... Contudo, é uma cidade que inebria.
De tudo o que me comove, sempre, são os três reis magos. De tudo o que me invade sempre são os mares mornos, azuis, verdes, intensos e suaves. De tudo o que instiga é o centro, o beco, os poetas, os loucos, os sons e a melodia. O beco como centro do centro numa resistência ímpar. O beco da lama, maldito, excluso, concluso de nós. O beco da cidade sem beco retido na lama, no escárnio, na ausência de visão. Há em tudo a ausência. Ausência do poder público, do que representa o centro, o beco. Há sobre tudo um não sei o que de nada. Fazemos as contas e pouco se conta a favor. Fazemos os acertos e nos encontramos de novo de frente em frente a um reboliço de gente: poetas, artistas plásticos, músicos, cantores, cantadores, bailarinos, boêmios, moradores dos arredores, intelectuais, e os loucos de todo o gênero. Ali, naquele lugar, uma terra de ninguém, um território obscuro. Olha-se sem ver como se tudo fosse isso mesmo, lugar de alguns transeuntes, passageiros do lugar que não se vê. Observo a cidade, alheia a tudo, ou quase tudo que ocorre por lá, como se não fizesse parte de parte de nós.
Tudo isto nos remonta às condições de abandono que está submetido o centro de Natal. Ali, os moradores se isolam numa proteção invisível. Ali, os defensores da cultura, da arte, do patrimônio histórico resistem como a dizer da vida, da preservação.
Estamos iniciando uma articulação de parceiros na perspectiva de ativar uma rede para preservação, manutenção, e mudança favorável para os que ainda crêem no centro, mais precisamente, no beco da lama.
Aquele lugar é palco e cenário de uma efervescência artística e cultural, a partir da culinária regional até as demais manifestações culturais. Esta parceria une setores diversos. Esta iniciativa busca restaurar e tornar viável o que já ocorre no beco da lama e no centro, de maneira que garanta a cidade para todos como uma referência de nossa cultura, nossa arte e nosso lugar. O beco da lama emerge como um grande ponto onde nos deixamos esquecer.
O centro sucumbe no beco resistente na arte e no sabor da embriaguês artística. Como não nos vemos no espelho, um enorme espelho reflete inconteste a cara, os gestos, os costumes, trejeitos, a loucura da ausência de visão, da falta do olhar, da falta do afeto, afago e amor. Ausência de amor coletivo numa demonstração de ocultação de nós e de si mesmo.
Nos desmontamos no beco e refazemos nele como sujeitos ausentes de nós. Uma cidade sem cara escondida no beco que pulsa na tela mascarando o personagem ausente.
Somos, enfim, um beco de saída. Somos, enfim, o Beco da saída.

Amélia Freire

por Alma do Beco | 10:37 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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Praieira
(Serenata do Pescador)


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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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