sábado, maio 07, 2005

NEM ÁGUA

Márcia Maia
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Galeria do Espaço Cultural da Câmara, Natal, 28/04/2005


pois é do sonho dos homens
que uma cidade se inventa.

Carlos Pena Filho



Um espaço de contrastes, pensei, no dia anterior, enquanto, sentada na balaustrada da varanda, observava a árvore imensa e com todas as folhas secas, repleta de passarinhos. Não os via na mangueira, belíssima e secular mangueira, que com ares de dona ou mãe, dominava aquele espaço. O Espaço Cultural da Câmara de Natal.
Um espaço de contrastes, pensei também, no outro dia, ao chegar para o evento. De um lado, o muro, a Galeria repleta de quadros belíssimos. Tão diversos entre si e ali dispostos, lado a lado, numa serena e perfeita harmonia. Um pouco além, o palco, já iluminado, a mesa de multimídia. As duas árvores. E o pátio entre elas empoeirado, imundo. E deserto. Os bancos, ao seu redor, sujos de leite de manga e cocô de passarinho, abrigavam os membros da banda e uns poucos amigos. Três gatos pingados, como diria a minha avó. E, sobre tudo, a noite quente de uma Natal sem lua.
Vez por outra, a equipe da tv aparecia. Flashes ao vivo para o Jornal daquela hora. Foco bem fechado, ou se aberto, apenas sobre a Galeria. A mim, poeta do Recife, gentilmente e ao vivo , entrevistaram, não esquecendo de ao fim, convidar as pessoas para ali comparecerem. Com certeza, um tanto tarde.
E foi assim, nesse espaço de contrastes, semi-escuro, que o evento começou. Um debate sobre os blogues e o papel que vêm tendo na difusão da poesia, antes deles, tão esquecida, como uma arte menor. Confesso que ao subir naquele palco, me sentia um tanto embaraçada, constrangida, tendo, à frente, por platéia a noite e o vazio.
Diz-se que o poeta é um sonhador, que os poetas vêm além do imediato. Talvez por isso, de repente, dei por mim e Eduardo discorrendo, explicando, conversando com os três gatos pingados da platéia, como se ali houvesse uma quase multidão. Pensando bem, decerto havia. No olhar interessado dos amigos, na expressão deslumbrada da cantora, que se encantava a cada novo blogue que mostrávamos. Valeu a pena, pensei ao terminarmos. E o vento agitou as folhas da mangueira, como se comigo concordasse.
Tv de volta, flash ao vivo, demorado, desta vez entrevistando Leonardo e Eduardo, os responsáveis pelo Projeto Cultural Luiz Carlos Guimarães. E então, o show de encerramento. Ângela Castro, a cantora, jovem, talentosa, bela, e sua banda, dois ou três músicos, não lembro ao certo. Foi aí, nesse instante, que se deu o inacreditável, o inimaginável. O desrespeito e o descaso esgrimidos de forma tão displicente e tranqüila, que me fizeram, de novo, lembrar dos contrastes. Ao fim da primeira música, os responsáveis pela iluminação, desligaram as luzes do palco, e cobriram cuidadosamente os holofotes (será que ainda se chamam assim?) com capas pretas. A noite morna de Natal se estendeu além do pátio, sobre o palco. Por cerca de meia-hora, as canções se elevaram na semi-escuridão. Acentuando o sentir de abandono sobre o Espaço.
Findo o show, as despedidas. O sentimento de se ter feito a sua parte, brilhava no sorriso da cantora, ainda encantada com os blogues. E hesitava nos lábios de Eduardo, ao me dizer, embaraçado: que mico! Que mico? perguntei. (Ah, como é bom ser estrangeira nessa hora! pensei.) Você cumpriu a sua parte. Se os outros, os que fazem a Câmara Municipal de Natal, no coração da qual pulsa este Espaço, se eximiram de comparecer e de até mesmo o evento divulgar, deixe que a eles caiba o mico. Se mico houve. Se mico houver.
Fim de festa, em torno só mormaço e bruma. Além, as dunas. Pensei no poeta recifense que dizia ser "do sonho dos homens que uma cidade se inventa". E percebi que tinha a boca seca, que tinha sede. Mas ali, naquele espaço, naquela noite, para matar a sede nada havia. Nem água.


Márcia Maia


Orf
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Ângela Castro, o debate sobre blogues e o vazio. Natal, 28/04/2005

por Alma do Beco | 8:40 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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