segunda-feira, abril 11, 2005

PAJARACA


Jornal de Hoje, 9/10.04.2005


Já dizia o saudoso José Cavalcante, Seu Zé, escritor da Serra das Espinharas, na Paraíba velha de guerra, que o matuto só está dentro dos conformes quando é enxerido, metido a sabido, tirador de onda e conversador. E se, por ventura, junto a todos esses "atributos", for biriteiro e sem um grama de juízo, aí é que se dana tudo, pois mistura a cachaça com o enxerimento e os remédios controlados... Pois bem, todos esses adjetivos e pré-requisitos caem como uma luva no nosso personagem de hoje, Pajaraca, que vive nesse mundo de meu Deus a bater perna, beber cachaça, conversar aritica, tirar onda e "azedá" onde quer que esteja.
Em dezembro passado, quando estive em Boa Vista, tive notícias que "o troço" estava "encangando grilo" pras bandas do brejo paraibano... E, nessa dita ocasião, foi que me contaram esse causo, no Bar de Sebastião Lagoa, envolvendo também o então vice-prefeito de Boa Vista, Dr. Rosandro Aranha, meu amigo de fé, que é um daqueles caras que levam ao pé da letra o "Juramento de Hipócrates e o amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo".
Pois bem, estava o Dr. Rosando, certa ocasião, no posto médico, numa monotonia mais enfeliz do mundo, quando chega Pajaraca, se abanca e começa a desencavar defunto, contando estórias de mil novecentos e cacete, umas verídicas e outras tão fantasiosas quanto a criatividade da sua mente lhe permitisse. O Dr. Rosandro, bendizendo aquela visita inesperada e salvadora por quebrar a mesmice da atividade do Posto Médico naquela tarde, era todo atenção ao "mais que ilustre visitante".
E eis que, de repente, chega uma mulher com um garoto de seus quatorze anos mais ou menos, o jovem com o pênis "quage disgolado", como diz o matuto, por um corte causado por uma pedra na mineração de extração de betonita. Enquanto a mulher só faltava arrancar os cabelos da cabeça e de outros lugares mais, de tanto aperreio, em que pesasse a gravidade da situação, o Dr. Rosandro, para desanuviar o ambiente, falou para Pajaraca:
— Pajaraca, você agora vai me ajudar! Pra começar, faça logo uma limpeza bem feita com álcool e água oxigenada no corte desse rapaz...
E Pajaraca, dando um pinote do tamanho do mundo, respondeu:
— Vôte, dotô. O sinhô arruma tudo cum eu! Mais dessa vêiz, pode dá a promoção pra ôto! É da vêiz qui esse sujeito se réia tôdiin; mais eu mermo num vô pegá nessa nojenta, de jeito e qualidade!
O Dr., tentando conter o riso, procedeu o atendimento ao jovem e depois de suturar daqui e dali, se dando por satisfeito, concluiu o serviço após uns quarenta minutos. E como é de seu feitio e do seu coração maior que seu corpo, deu umas amostras grátis para a mulher tratar o filho doente; pelo que ela lhe agradeceu emocionada. E o engraçado é que enquanto o Dr. fazia seu trabalho, Pajaraca, calado, prestava a maior atenção ao procedimento. Parecia um acadêmico de medicina (guardadas as devidas proporções). E Dr. Rosandro, se despedindo, instruiu a mulher de como tratar do filho.
A mulher, imensamente agradecida, já ia saindo da sala, quando parou de repente para perguntar:
— Sim, dotô, e inquanto ele tivé duente, tá improibido de cumê aiguma coisa?
Aí, Pajaraca, sem se aguentar, respondeu no lugar de Dr. Rosandro:
— Só ais cabra, ais uvêia, ais póica, ais besta e ais jumenta!...Isso, puro umas duas sumana, qui é mode num torá uis ponto!...


BOB MOTTA

por Alma do Beco | 7:13 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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