domingo, abril 24, 2005

NASI, A MELADINHA E O POETA

Tribuna do Norte
Nasi Canaan

Que importa a paisagem, a glória, a baía, a linha do horizonte?
- O que eu vejo é o beco!
Manuel Bandeira

Partindo do pressuposto que Assu é Terra de Poeta, sendo Santana do Matos desmembrado de seu útero, por gravidade nasci também poeta e, ainda por cima (literalmente), abençoado por serras densamente inspiradoras.
Depois de habitar o centro do Estado, vim habitar o centro da Capital, a Cidade Alta, na aurora dos anos setenta. Matuto recém chegado do sertão, vislumbrado com um grande rio de água doce que nunca seca e outro muito maior, de água salgada e galões enormes.
Minha relação íntima com a poesia se eleva ainda mais. A rua que me acolheu: Auta de Souza (poetisa), mais uma benção poética. Rua pequena tendo sua esquina à esquerda de minha casa, a Avenida Rio Branco, com grandes lojas, entre elas, a grande 4400 (Quatro Quatrocentos). A esquina à direita era caminho obrigatório, nicho de minhas amizades e brincadeiras: Rua Princesa Isabel.
Todos os dias, eu descia a Princesa Isabel em liberdade para encontrar o lazer. Um Senhor sempre cruzava minha infância em sentido contrário. Habitante da Rua Princesa Isabel, Seu Nasi subia, no seu rumo diário, para a labuta em seu bar no Beco da Lama. Crescendo entre becos e ruas pequenas, o Beco da Lama foi sempre rota de minhas andanças, onde respirava uma atmosfera mais humana e poética.
Subi os tabuleiros de Candelária pra morar, veja só, na Rua Poeta Moysés Sesyom! A poesia sempre nimbando minha existência. Nos anos oitenta, quase adulto, já freqüentava assiduamente o templo do Beco da Lama, o Bar de Seu Nazi e, em meio às calorosas discussões ideológicas, a meladinha daquele senhor contribuía para acender idéias de uma sociedade ideal.
Início dos anos noventa, meu pai me revelou que tinha servido na Aeronáutica, pós-guerra, na Base Aérea de Parnamirim, com Seu Nasi. Sempre que eu lhe lembrava que era filho de Cabo Bezerra, ele mudava a forma de atendimento para comigo, sendo um pouco mais atencioso. Eu disse, um pouco! Com essa aproximação, fui nutrindo uma admiração e respeito por ele.
Um dia, acho que fins de 1993, escrevi um poema em sua homenagem e prometi que o traria emoldurado de presente. Pra que eu fui prometer! Ele passou um ano cobrando e, em fins de 1994, finalmente, saldei minha dívida.
A Escócia tem whisky; Rússia, vodka; França, champagne ou cognac (conhaque); Porto (Portugal), vinho. O pequeno principado do Beco da Lama tem a meladinha de Seu Nasi, elixir da longa vida poética, passaporte obrigatório da boemia, bendito e exaltado pelo jardineiro musical, o glorioso Pixinguinha, que também plantou uma Rosa por lá. Minha poesia ainda exala o odor de sua meladinha, estro-essência extraída à flor do Beco da Lama.
Eis o Poema a Nasi:


ENTRADAS & SAIDEIRAS
Ao Grão-Mestre da Confraria do Beco da Lama, Nasi
(Retreta Poética - 2002)


O vácuo noturno vaga vielas e avenidas
Desembocando no beco
A nau dos sedentos bandeirantes.
Entre entradas e saideiras
Saúdam santos e errantes.

Entre os tragos da resistência
E as tréguas da existência,
Sobra uma lua
Suspensa por cabos e fios
Dos cinzentos edifícios,
Para embalar abrigos embriagados,
Mendigos, boêmios e poetas
Que buscam o ouro reluzente
No fundo dos copos do alquímico Nasi.

Em sua taberna, papiros nas paredes
E pêndulos tecidos mil e uma noites a fio,
Aspiram a poeira poética.

Mais um anoitecer
E o Beco-Albergue
Acolhe ilustres e anônimos.


Manuel de Azevedo

por Alma do Beco | 8:08 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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(Serenata do Pescador)


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A imagem de fundo é do artista plástico e poeta Eduardo Alexandre©

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mariza lourenço

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