segunda-feira, abril 04, 2005

ENTREVISTA: FERNANDO BEZERRIL

Entrevista
Fernando Bezerril
Secretário de Comércio e Turismo da Prefeitura Municipal do Natal



“O turismo só é bom quando ele primeiro é bom para quem mora na cidade”.



O Beco – Sabemos que você está assumindo a SECTUR agora, mas, com relação ao centro Histórico, com relação à boemia de Natal, revitalização do centro, cultura recebendo turismo, já existe algum projeto definido pela Secretaria de Turismo?

Fernando Bezerril – O natalense, mesmo sem ocupar nenhum cargo, é como o brasileiro torcedor de futebol: todo mundo é um técnico e tem uma opinião boa acerca disso. Hoje, estando secretário, nós não imaginamos o turismo dissociado da cultura. E a primeira coisa que nós fizemos foi convidar o colega Dácio Galvão, presidente da Capitania das Artes, que é uma pessoa importante para a cultura do Estado, para indicar uma pessoa da cultura para fazer parte da nossa diretoria. Você sabe que quando a gente ocupa cargo público, os cargos são muito poucos, mas pela importância que é a cultura, nós ousamos solicitar uma pessoa indicada por Dácio para fazer parte da nossa mesa diária de trabalho: chama-se Yuno Silva, que é uma pessoa da cultura, é um colega de vocês, um jornalista, jovem brilhante que tem muito acrescentado nisso, e nós não conseguimos entender porque o turismo de Natal, do Rio Grande do Norte, crescendo como cresceu.
Nós já estamos no quarto mês do ano, e estamos com um crescimento, só a nível internacional, de 30%. Sabendo que o turismo internacional, o nacional, que é o que mantém o ponto de equilíbrio – o paulista é o primeiro e o segundo (capital e interior) pólo emissor mais importante pra gente – e o europeu que descobriu Natal agora, o americano que chegou agora via American Air Lines.
Dia 29, veio a Natal o mais importante diretor da American Air Lines, Dilson Verdoza, veio aqui porque eu disse a ele que a gente tinha uma proposta dos americanos, que são 50 mil que estiveram na guerra aqui e hoje a metade desses ainda estão vivos e então podíamos trazer a Natal os que hoje são generais e os que viraram empresários, e podíamos alavancar o fluxo turístico, porque Natal tem história para contar. Ele achou maravilhoso. Pegou um avião, no outro dia estava aqui, passou quatro dias com a gente.
Eu botei esse cara na garupa do meu cavalo, andei tudo que tinha direito, inclusive mostrando a ele que Natal não era só sol e praia; que Natal tinha um acervo cultural grande e tinha também empresas importantes, exportadoras de atum, que a nossa terra era a maior do Brasil em exportação de camarão de qualidade, concorrendo no primeiro mundo com o americano, com toda a Ásia, que, coitados, tiveram esse problema agora, e que os porões dos aviões da American Air Lines, que voam sete aviões por dia para São Paulo, não chega nem um no Nordeste e que podia ter Natal, geograficamente falando, tava ali, todo europeu, e eles iam chegar depois por quê? E ele disse:
- Fernando, casou certinho o que a gente estava pensando com o que você acendeu a luz aqui.
E eu fiquei feliz porque a gente tem o atum, o peixe, o camarão, a lagosta, a gente tem o melão, a gente tem o que eles não têm para encher os porões e eles têm o passageiro.
Nós temos poesia, cultura, e essa história do americano é cultura. Trazer para cá um fantour e esse fantour seria o quê? Um grupo de dezoito pessoas onde nove seriam ex-combatentes americanos e nove seriam jornalistas e um ou dois operadores que depois iriam vender o produto da gente: venham para Natal.
Levei-o ao Infraero. Mostramos a capacidade nossa de exportação, mecânica de transportar sem dificuldades. Pouca gente de Natal sabe a ferramenta que existe disponível no Aeroporto de Natal. É uma coisa belíssima. Ele que viaja o ano inteiro e conhece o mundo inteiro ficou encantado com o potencial existente, pronto, disponível. Tem uma câmara frigorífica lá de 30 toneladas, totalmente disponível, esteiras rolantes e capacidade de carga do jeito que a gente precisa. Eu me sinto feliz de estar fazendo isso.

O Beco – Como agente transformador da sociedade, o turismo no Rio Grande do Norte é de extrema importância. Como você vê a parte da preservação do centro histórico para o desenvolvimento do turismo aqui em Natal?

Fernando Bezerril – Eu vejo com preocupação, porque a gente sabe que não existe definida ainda uma linha de como isso será a curto, a médio e a longo prazo. Mas nós sabemos que hoje o presidente da Fundação José Augusto, François Silvestre, que é extremamente competente, e o presidente da Capitania das Artes, Dácio Galvão, e o fruto desses trabalhos que estão sendo rodados em mesas, em parcerias com as universidades, juntamente com as nossas secretarias, com certeza, irá sair o melhor.

O turismo de Natal cresceu sem mostrar
o lado talvez mais importante que é nossa cultura

O Beco – Como a Sectur pensa encaixar a cultura recebendo o turismo?

Fernando Bezerril – Ela está pensando com muita responsabilidade. Ela está consciente de que o turista que aqui esteve durante o decorrer de todo esse tempo, ele viu sol e mar. E não conheceu, não teve oportunidade de conhecer o lado cultural. Olha que o turismo de Natal cresceu desse jeito, sem mostrar o lado talvez mais importante que é nossa cultura, mas que o desabrochar dessas idéias dessas secretarias irá complementar isso com muita competência.

O Beco – Como a secretaria encara a parte do turismo gastronômico? Veja que o RN tem uma culinária maravilhosa e isso nunca foi explorado. Como a Secretaria poderia inserir o paladar como fonte de atração para quem nos visita?

Fernando Bezerril – Eu tenho uma pesquisa recente sobre isso muito interessante. Existe uma empresa de pesquisa que é a Perfil, e ela nos deu, de graça, essa informação. Todos nós sabemos que Natal era um dia desses a terra da carne de sol. Você falava em qualquer cidade do Nordeste: carne de sol, Natal. Ótimo! Maravilhosa! Melhor que nenhuma outra. Já morreram seu Lira e seu Marinho, mas seus alunos ficaram. E Fernando, da Perfil, me disse:
- Olhe, Bezerril, aquela pesquisa que você quer fazer do símbolo de Natal, vou lhe dar de graça. Hoje, Natal, na gastronomia, é a terra do camarão. Até mesmo porque potiguar quer dizer comedor de camarão. Eu não sei porque essa coisa não veio antes!

O Beco – Temos notado que Natal tornou-se uma cidade de carnavais fora de época. Antes do carnaval, aqui, tem tudo. No carnaval, nada. Hoje, existe uma tendência de prévias carnavalescas no entorno do Beco da Lama e elas estão acontecendo ali. Não seria interessante uma tentativa da Sectur de resgatar os velhos carnavais natalenses?

Fernando Bezerril – Eu acho interessante que as duas coisas aconteçam. Primeiro, porque o Carnatal nada mais foi que uma cópia das micaretas baianas e achamos que devemos copiar o que está dando certo e quem é competente. Eu sou um copiador da Bahia e do Ceará. Inclusive, na nossa diretoria aqui, o doutor Paulo Nunes esteve recentemente em Salvador, sem nenhum problema de perguntar o que vocês têm de bom que a gente quer conhecer para aprender. E nós entendemos que o Carnatal veio para antecipar a temporada, porque nós tínhamos mil idéias de fazer em dezembro o Natal em Natal, eu menino, me lembro, empresários querendo fazer o Natal em Natal e até hoje não foi feito esse negócio. Mas aí, a Destaque Promoções, com muita ousadia, foi na Bahia, copiou, trouxe para Natal, e fez um carnaval fora de época pequeno, o primeiro, e hoje é o maior do Brasil. A hotelaria de Natal, em dezembro, já não tem mais problema porque o Carnatal resolveu.
Quanto ao carnaval, existe o carnaval pernambucano, incomparável; existe o carnaval baiano, que é exatamente o máximo, e existe o carnaval de Natal que é um carnaval mais voltado para o povo da cidade, para o social, que eu acho que tem de existir. Acho que devia ter algumas modificações. Concentrar a coisa a nível de Zona Norte porque a Zona Norte é a metade de Natal, é Natal mesmo, e a nível de centro da cidade. Devemos ter dois carnavais, porque tudo que pensarmos para Natal devemos ver que a Zona Norte é uma Natal importante. Devemos ter dois carnavais e duas festas de São João. Estamos bem casadinhos com a Capitania das Artes que tem muito mais competência do que a Sectur para fazer São João, para fazer carnaval. A Capitania terá o apoio da gente porque o turismo tem que ir buscar turista para Natal, cuidar da cidade para receber e, em parceria com a Capitania, fazer belos e antigos carnavais.

O Beco – Se você pudesse hoje, sem dificuldade nenhuma, botar em prática um projeto para o turismo e para a cultura da cidade, o que você faria?

Fernando Bezerril – O meu sonho é consolidar mais o turismo de nossa região, sem nunca esquecer que o turismo só é bom quando ele primeiro é bom para quem mora na cidade, para depois ser bom para o turista.

Lenilton Lima

por Alma do Beco | 7:19 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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