terça-feira, março 29, 2005

AS BOTAS DOS AMERICANOS

Av Tavares de Lyra - Natal


Escritor e imortal da ANL, LENINE PINTO, em e-mail dirigido a Laélio Ferreira e Roberto Guedes, dá notícia acerca do "mais popular artigo produzido na cidade" durante a Segunda Guerra Mundial


Meus caros Roberto e Laélio,

Aqui vai a notícia sobre as famosas "botas de Natal" (ou flying boots), o mais popular artigo produzido na cidade durante a guerra e que os americanos espalharam pelo mundo nos pés dos pilotos do Air Transport Command (ATC) que transitavam por aqui antes de pularem para seus destinos nas frentes Egito-Mediterrânea, China-Birmânia-India e até na Russa.

Sabia-se, na época, que essas botas de meio-cano e boca folgada, feitas em couro do curtume artesanal de Epaminôndas Brandão, foram "inventadas" ou resultaram de um erro do mestre-sapateiro Severino Edísio da Silveira, ao confeccionar um modelo sob encomenda. Não saíra como o cliente americano queria, mas este experimentou, gostou, o sucesso foi grande e imediato.

O estabelecimento de Edísio ficava na Travessa Aureliano, quase em frente à loja Paris em Natal, o magazine masculino chique da época, o que valorizava seu "ponto", aliás, fotografado para reportagem da revista LIFE sobre Natal (edição de 6.8.43: Air Transport Command Base – Under U.S. military men, a Brazilian airfield at Natal becomes the wartime crossroads of the world.). Obtive cópias de algumas fotos dessa matéria, via Internet, graças ao nosso comum amigo Leonardo Barata.

Com o crescimento da demanda por tais botas, surgiram três ou quatro concorrentes, mas nem todos caprichavam no material empregado e o The Sat'd Weekly Post, editado em Parnamirim, numa matéria intitulada "Boots Boosts Sales of Largest PX" ("Botas aumentam vendas do maior reembolsável"), publicada em 19.6.45 - e embora reconhecendo o atrativo comercial das flying boots - investe contra a qualidade das mesmas: "elas não duram muito."

Bom, era artigo fino, para aviadores, não substitutos para as reiúnas da infantaria.

Por outro lado, o advogado Túlio Fernandes, em depoimento a Protásio Melo, levantou a hipótese de que essas botas teriam sido criadas por seu sogro, o discreto Pedro Nolasco, empresário do ramo calçadista, que instalara, sem que ninguém suspeitasse, "uma bela fábrica" na avenida Tavares de Lyra (prédio hoje pertencente à Tribuna do Norte) e ali confeccionara "as primeiras botas daquele tipo" (Protásio Melo, Parnamirim e Natal na II Guerra Mundial, p. 135.). Marcelo Fernandes, irmão de Túlio e que trabalhava em Parnamirim, sabe que seu Nolasco era grande fornecedor de botas para exportação tax free.


Já o brigadeiro Ivo Gastaldoni, que serviu aqui como aluno e depois instrutor da USBATU (United States-Brazil Air Training Unit), discorrendo sobre a Base Aérea de Salvador, conta que, entre os prédios daquela Base, era tudo "terra batida, arenosa, com minúsculas pedrinhas que se infiltravam no sapato e incomodavam paca". Essa peculiaridade - acrescenta - induziu à criação de um novo tipo de calçado que acabou sendo muito popular no Nordeste: era uma espécie de bota, cujo cano subia somente até o meio da canela. Esta botinha impedia totalmente a entrada das pedrinhas, principalmente se usada por baixo da perna da calça comprida" (Ivo Gastaldoni, A ÚLTIMA GUERRA ROMÂNTICA/ Memórias de um piloto de patrulha, p. 119. Grifo, nosso).

Ninguém menos que o próprio Comandante-em-Chefe da Força Aérea do Exército dos Estados Unidos, General Henry H. Arnold, para dirimir a questão. Num artigo intitulado The Aerial Invasion of Burma, publicado no The National Geographic Magazine de agosto de 1944 (pp. 129-148), que obtive graças ao empenho e generosidade de Ronald Levinsoh, o general relata:

"O Original de Terry e os Piratas - No quartel-general da AAF [Army Air Forces] entraram dois jovens oficiais bem recomendados. Um era o Coronel Philip G. Cochran, de Erie, Pennsylvania, piloto de caça com 34 anos de idade, que demonstrara notável espírito de liderança no Norte da África. Cochran ainda calçava suas botas de couro de Natal, com a bainha das calças enfiadas nelas..." (Grifo, nosso)


Outro produto que fez muito sucesso foram as "Natal Bags", cópias das sacolas carry all anunciadas no catálago da SEARS. Heider Mesquita, filho do proprietário da Natal Modelo, contou-me que alguns americanos chegavam na loja com os canos das botas entulhados de dinheiro e enchiam tais sacolas com meias de seda das marcas Leda e Lídice (fora das caixas e bem socadas para caberem mais). Quando o pai conseguia, na base de "pistolão", disponibilidade nos aviões da Cruzeiro e da Panair para trazê-las do Rio e São Paulo, as vendas alcançavam cerca de dez mil pares a cada 15/20 dias. Receita de 30 a 40 mil dólares/semana, assim mesmo inferior ao faturamento da concorrente Casa Rio.

Clyde Smith Jr., reportando-se ao movimento do PX (Post Exchange) de Parnamirim - que considera "o maior do mundo" com base em informações de The Official History of the South Atlantic Division-ATC: "quase US$50,000.00 em um único dia" - assinala que os artigos mais procurados ali eram as botas, relógios suíços e... meias de seda" (Clayde Smith Junior, Trampolim para a Vitória, p. 105), justamente aqueles destacados na edição da LIFE, acima mencionada.

Disponham sempre do seu amigo,



Lenine

por Alma do Beco | 7:15 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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