quinta-feira, fevereiro 24, 2005

O que aconteceu com o viloncelo do professor Tomazzo Babini


www.pechansky.com.br/ desenho.htm

Octavio Pinto

José Mariano Pinto, meu pai, casou-se e foi morar numa casa à rua Nova, depois avenida Rio Branco, que é hoje a principal da Cidade Alta, em Natal.
Como a família foi crescendo, ele comprou um sítio na Av. Deodoro e lá construiu uma bela e grandiosa residência, sem nada faltar em conforto.
No fundo da chácara, havia uma casa muito bem feita, de taipa coberta de telha, com vários cômodos, que tinha sido residência do dono do sítio. Anos depois, nessa casa foi morar o professor Tomazzo Babini, italiano e amigo de papai, exímio violoncelista. Ele era um homem admirável, inteligente, boa voz, bonitão, nos ensinando solfejo.
Todas as tardinhas, ele chegava das suas aulas. Tirava o paletó e ia preparar sua refeição, pois morava sozinho. Depois do jantar, mais tarde, ia estudar. Acendia a luz da sala; colocava a partitura na estante, e trazia o violoncelo que estava cuidadosamente guardado numa enorme caixa. Sentava-se diante da estante; enxugava as mãos numa toalha que colocava depois na perna; fitava a partitura, e o instrumento começava a emitir as notas mais harmoniosas de um trecho de música clássica italiana. Era uma delícia ouvir Babini. Eu e o meus três irmãos ficávamos na janela assistindo esse maravilhoso concerto, todos calados, silenciosos, porque ele não queria ser perturbado.
Certa noite, porém, tudo foi diferente, inacreditável, inexplicável. Babini, como sempre, chegou, e logo depois nós ficamos na janela para assistir o adorável concerto. Ele jantou, veio para a sala, colocou a partitura na estante, trouxe o violoncelo que tirou da caixa, sentou-se, enxugou as mãos numa toalha que deixou sobre a perna e, colocando o instrumento na posição adequada, tomou o arco para ferir as cordas. Nós, da janela atentos, calados, mas esperando algo de anormal, em expectativa de uma coisa que nunca poderia passar pela cabeça do nosso professor.
Babini fita a partitura e, segurando o arco, passa o mesmo pelas cordas que não emitem um único som. O violoncelo estava mudo. Ele levanta-se colérico, indignado, bufando de ódio e indignação. É que havíamos passado boa porção de sabão nas cordas do violoncelo.
No dia seguinte, Babini deixou de morar naquela casa da chácara, depois de ter conversado com papai, que não compreendeu porque havíamos feito aquilo com o seu amigo e nosso professor. Coisa da meninice.

In Reminiscências,
Octavio Pinto
Gráfica Olímpica Editora Ltda. Rio de Janeiro, 1979.

por Alma do Beco | 12:47 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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