sexta-feira, fevereiro 18, 2005

O aniversário do turco

19 de fevereiro de 2003

Abech e Dona Ivone

Edgar Allan Pôla


Meninas são meninas e elas se sensibilizaram diante da conversa do turco Pedro Abech.

- Dia 19 é meu aniversário e, fora a asa, o coração, a lingüiça, essas coisas do churrasco e a bebida, o resto é por minha conta.

Cantados os parabéns, porque foram vários, elas tiraram de uma bolsa um cotizado presente para Pedrinho: um Balantaines.

Luciano de Almeida estava injuriado por conta dos Antigos Carnavais, a festa de Gutemberg Costa, que levara o povo para dentro da Capitania onde um bar monopolizava a venda exclusiva de isquincariol a um e cinqüenta, enquanto a turma do isonor estava, lá fora, vendendo outras marcas a um.

- Quando a banda chegou na Ribeira e fez a parada na Peixada Potengi, foi um absurdo. O cara me cobrou cinco contos numa meia dose de blaque e uaite... Quando reclamei, ele balançou o copo para o uísque descer e tentar me enganar.

Na verdade, a estória ficou por isso mesmo até que Serrão lembrou:

- As doses do turco também são como essa, Luciano. A diferença é que, com todos os tiques do mundo, quando a dose chega, já está devidamente balançada e o gelo já subiu.

Pedrinho mostra o presente que ganhou, dizendo que é para mais tarde e Luciano, então, diante de tal promessa, passa a sorver o seu professor vagarosamente, com muita moderação e longas pausas, esperando o Balantaines ser servido.

Ivone serve um creme de frango num prato médio de plástico e a festa tem seqüências sem anormalidades.

O turco, em seu aniversário, estranhamente, vez em quando, dava umas esquisitas mostras de generosidade. O assunto do dia rolava por conta do orelhão dos fundos da casa do padre. O bicho estava engolindo tudo quanto era cartão.

Humorado, Pedrinho não perdeu chance:

- Não sei porquê, mas esse orelhão tá com uma larica daquelas...

Só com dois contos miúdos no bolso e depois de uma conversa com Husseim no laricado, Luciano sugere:

- Pedrinho, sai uma dose de dois reais?

Dia de generosidade inconteste, o turco vira, abre a boca tortamente umas três vezes, faz que fala, mas não fala, se abana com a mão direita, com a esquerda, retorce a cabeça, dá de ombros, bota a ponta do pé diante do corpo, torce e retorce a perna e dá o veredito:

- Mas claro!

E chamando a consorte:

- Ivone, bote aí uma dosezinha para Luciano.

Atento, Eduardo não perdeu oportunidade para alfinetar o turco avarento.

- Tá vendo... Nem no dia do seu aniversário esse turco tem cura. Se fosse uma dose ao preço normal, ele diria: Ivone, bote aí mais uma dose para Luciano.

O turco, quando apercebeu-se da sutileza, ficou magoado diante da evidente constatação e encabulou. Diminuir sua generosidade era demais!

Mas o fato é que Luciano foi embora e o Balantaines ficou para depois:

- Na Sexta, a gente toma, Luciano...

por Alma do Beco | 8:11 AM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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