sábado, fevereiro 05, 2005

Edgar Barbosa

As coisas simples
Nilo Pereira




No dia 6 de agosto de 1976, falecia, em Natal, Edgar Barbosa, após longos padecimentos.
A impressão é a de que, filho e neto de pessoas que longamente viveram, ele também longamente vivesse.
Ele havia alcançado essa sabedoria clássica. Pela arte viverá perenemente.
Seu estilo, talvez único no seu tempo e entre os seus contemporâneos, lhe assegura a perpetuidade. Nunca será esquecido o intelectual que tudo deu de si, fixando-se na Província, sem aceitar os insistentes convites, que lhe fez Aprígio Câmara para advogar com ele em São Paulo.
O seu último desejo foi repousar para sempre no chão sagrado do Ceará Mirim. Fez, assim, a sua viagem de volta, como disse Paulo de Viveiros, ao pé do túmulo, falando em nome da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras.
Todo o Ceará Mirim comoveu-se diante do seu grande filho morto. Quando o cortejo fúnebre entrou na cidade, a velha Matriz fez dobrar o seu sino legendário. Por quem o sino dobra? Até ao vale chega o seu som dolorido. Alguém vem chegando para descansar e dormir profundamente. Esse alguém é um dos mais completos e ilustres ceará-mirinenses – o escritor, o poeta, o magistrado, antigo Juiz de Direito da Comarca, o jornalista, o cronista, o mestre universitário – Edgar Barbosa.
Só ali, naquele descanso que é um berço, ele podia estar, ao lado dos pais, como se assim melhor se integrasse em si mesmo, na sua alma romântica de sonhador.
O general Hélio de Albuquerque Melo, falando na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras por ocasião da homenagem prestada à memória de Edgar Barbosa, 6 de agosto de 1977, ao ensejo do primeiro aniversário do seu falecimento, fez esta revelação:
- Edgar deixou sua frase na memória dos que o assistiam. Uma frase simples, como ele próprio: “Há séculos, os homens procuram as coisas simples.”
Esta frase final é o coroamento da vida de um pensador. Pois é preciso também encarar Edgar Barbosa como um homem de pensamento, que soube debruçar-se homens, os fatos e os tempos, colhendo de tudo isso as lições maiores da vida – a sobriedade, a humildade, a simplicidade.
Essas qualidades ele as encarnou de tal modo que, parecendo embora avesso ao convívio social, encontrava na própria sociedade a maior motivação da sua reflexão solitária.
Dele se pode dizer que era, a rigor, um homem do seu canto. Do seu pequeno universo. De um restrito círculo de amigos.
Mas, como diz Thomas Merton, “homem algum é uma ilha”, E ele não foi uma ilha; foi um continente, no qual conseguiu permanecer isolado do exibicionismo, da idolatria dos poderosos e do cantochão dos políticos, que, todavia, sempre o procuraram no seu recolhimento quase de asceta.
Precisamente nessa solidão que se impôs por temperamento e, certamente, por decepção, ele conseguiu aprimorar o seu espírito, atingindo graus de sabedoria verdadeiramente invejável.
Sua morte levou com ele muitas coisas simples, que os homens desprezam. Essa herança do seu espírito é a sua permanência entre nós, junto aos amigos e companheiros.
Em companhia de D. Dolores de Albuquerque Barbosa, viúva do grande escritor, tenho por mais de uma vez visitado o túmulo desse amigo de infância.
Chego a invejar aquele repouso sagrado, na terra sempre lembrada, onde estão as nossas raízes e onde tivemos as primeiras sensações de vida.
Leio o seu nome todo por extenso. Edgar Ferreira Barbosa – na lápide que cobre o que dele resta. E vejo que a vida é bela, como disse Machado de Assis, mas que é preciso que essa beleza venha das coisas simples, que são os poemas cotidianos de Deus.
Ele foi feliz. Descansa no chão da infância, bafejado pelas auras que vêm do vale, trazendo um perfume de poesia.

por Alma do Beco | 1:04 PM


Hugo Macedo©

Beco da Lama, o maior do mundo, tão grande que parece mais uma rua... Tal qual muçulmano que visite Meca uma vez na vida, todo natalense deve ir ao Beco libertário, Beco pai das ruas do mundo todo.

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